terça-feira, 23 de outubro de 2012

Artificial.

- What's wrong with me?


Tentando ser quem não era, até pareceu apropriado rasgar a carteirinha de feminista, como se houvesse uma. Buscava enquadrar-se tão perfeitamente nos estereótipos de gênero, investindo tempo, dinheiro e energia em um penteado escandaloso, em uma maquiagem gritante, em unhas de não deixar dondoca nenhuma passar vergonha, em um vestido da moda - nem puta nem santa, diriam elas -, com direito a cabelo e cílios (e sonhos) falsos, até ficar ridícula parecendo uma boneca pintada com materias escolares por uma criança.
[...]
Levou bastante tempo desfazendo toda aquela artificialidade. Com a maquiagem borrada pelas lágrimas, viu no espelho o reflexo do fracasso. Chorou a madrugada inteira, como nas novelas mais dramáticas, como nos contos-de-fada de princesa sendo enganada, sem achar seu príncipe. [...] viu tudo morrer de uma vez, a angústia apertou seu peito, a decepção pesou em seus ombros, sentiu o coração sangrar. Logo a verdade surgiu brutal, óbvia em frente a seus olhos, colhia o que plantou, de forma que foi dominada pela culpa. A culpa de ter tentado ser quem não era. Quis fingir que não se importou, quis dizer que não se machucou, tentou relembrar só a parte boa, porque dói assumir que, talvez, tenha investido tempo na coisa errada - e não falo do cabelo. Mas sua mente a sabota, faz a verdade gritar e a relembra o porquê de não ter auto-estima...
De que eu falava mesmo? Ah, de sonhos falsos.