domingo, 12 de junho de 2011

1ª Reunião Nacional da Comissão pró Encontro Nacional de Culturas não-Monogâmicas.

Acontece em Porto Alegre no próximo final de semana (17, 18 e 19) uma reunião nacional de culturas não monogâmicas. A reunião contará com os principais organizadores da crítica ao tabu da monogamia: a Rede Relações Livres, a Charô, responsável pelo Portal Poliamor Brasil, o Rafael, organizador do Poliencontro do Rio de Janeiro e o Júnior, responsável pela famosa comunidade de Relacionamento Aberto do orkut, entre outras pessoas.
Dentre os objetivos está a organização do primeiro Encontro Nacional.
Haverá debates acerca da monogamia, incluindo aspectos históricos, bem como será uma ótima oportunidade de mútuo conhecimento e de compartilhamento de dúvidas e situações de forma a ajudar na compreensão do medo da liberdade, da confusão afetiva e das experiências da multiplicidade sexual e afetiva.
Maiores detalhes, como o cronograma e as presenças já confirmadas, podem ser encontrados aqui e aqui.
Não há custos para participar do evento e certamente é um evento enriquecedor para monogâmicos e não-monogâmicos. Havendo interesse em participar, basta entrarem em contato.

Como diria Raul, "o amor só dura em liberdade".

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E se...?


E eu que não sou de chorar sinto meus olhos lacrimejarem discretamente quando deito à cama e os pensamentos chegam para atormentar. Minha memória me tortura com lembranças singelas de momentos que não voltarão. Com a lembrança de nossos dedos se entrelaçando no dia em que tudo começou, dos teus braços envolvendo minha cintura em meio à multidão, da trilha sonora... a trilha.
Lembranças de olhares, palavras, risadas, sentimentos nunca nominados, inconseqüências motivadas pela química de nossas peles. As idas e vindas, chegadas e partidas, os quilômetros, malditos quilômetros. Os abraços de saudade, os abraços de afeto, os abraços de satisfação, os abraços de despedida, os abraços, os braços, as pernas, as bocas, os sexos.
De repente, percebo quão triste é saber que jamais encontraremos outras pessoas que ignorem tanto a rotação da terra, como se aquilo sequer lhes dissesse respeito, os horários lá fora, a rotina diária. Pessoas que façam com que seus dias tenham a duração que lhes convenha, não separados por sol e lua e sim por lençóis e chuveiros.
E me machuca saber que tudo isso não teve a mesma relevância para ti que teve para mim. E se eu tivesse feito diferente? Em que momento eu deveria ter dito mais, ter dito menos? E se eu tivesse entrado naquele ônibus, enviado aquela carta, tido aquele filho, roubado aquele beijo? E se eu tivesse sido mais tolerante, e se eu tivesse me apaixonado pelo teu primo? E se eu tivesse ignorado o que ouvi, confessado o que me incomodava?
E todos aqueles laços que nos uniam hoje me parecem que apenas os forjamos. Fomos (ou só eu?) inocentes ao acreditar que a única distância entre nós eram os tais malditos quilômetros.
E se o nosso afeto tivesse sido o bastante para estabelecer lealdade? E se a minha irritante mania de falar demais tivesse dito o suficiente? E se a fraqueza da minha carne te provasse que eu entenderia a fraqueza da tua? E se a minha dificuldade em cortar laços tivesse te dado certeza de que eu perdoaria? Eu perdoaria... se a nossa história tivesse um significado real, se tivéssemos um dia deixado de ser estranhos um ao outro.
E se meu coração não tivesse se despedaçado em meio aos risos de deboche? E se a frustração não tivesse chegado arrebatadora? E se não tivesse sido mentira o que vivemos?

sábado, 4 de junho de 2011

Ser contra o amor é abominável.


Este post foi baseado em diversos e-mails que já recebi, mas conferi cada informação.

No dia 1º de junho aconteceu a marcha pela família, na qual as pessoas manifestavam-se contrários ao PLC 122/06, que visa criminalizar a homofobia.A maioria dos fundamentos dos manifestantes baseava-se em conceitos religiosos. Para ser mais específica: cristãos.

Por muitos anos fui cristã, pois, ainda que na infância meus pais fossem ateus, cresci ouvindo de tios, professores e na televisão sobre um homem manero bondoso, que amava, perdoava e ajudava a todos que o procurassem. Porém, à medida que as aulas de história me mostravam as atrocidades da Igreja Católica, como a Inquisição ou as Cruzadas, fui me desiludindo. Pedi de presente à minha família (acreditem!) uma "Bíblia de Estudo", para conhecer a tal "palavra de Deus". Lendo, me senti traída. Enquanto alguns trechos da bíblia pregam o amor, há narrativas de verdadeiras crueldades cometidas por um suposto ser superior.

Li barbaridades como “Certamente ferirás, ao fio da espada, os moradores daquela cidade, destruindo a ela e a tudo o que nela houver, até os animais. E ajuntarás todo o seu despojo no meio da sua praça; e a cidade e todo o seu despojo queimarás totalmente para o SENHOR teu Deus, e será montão perpétuo, nunca mais se edificará.” (Deuteronômio 13:15-16)

Ouvir os discursos de pastores de igrejas evangélicas foi determinante para eu perceber que a suposta bondade cristã era mito.

Mas okay, eu não me adapto às religiões e blábláblá. Mas e quem concorda e decide vivenciar tudo aquilo? Bom, vamos por partes.

Você me diz que está apenas seguindo a palavra de Deus, a qual diz ser abominável a prática homossexual. Justo você ouvi-la, mas imagino que você siga à risca TODA palavra de Deus e não só o que é conveniente, certo?

O trecho bíblico que causa toda essa caça a homossexuais é Levítico 18:22, "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;"

De fato, a bíblia é clara quanto à visão divina de que é uma abominação um homem "deitar-se" com outro homem. Mas a palavra abominação está prevista em diversas outras partes bíblicas, também do livro Levítico, capítulo 11, o qual prevê quais animais podem ou não serem comidos (imagino que nenhum cristão coma porco). Por exemplo, nos versículos 9-10 está previsto que "De todos os animais que há nas águas, comereis os seguintes: todo o que tem barbatanas e escamas, nas águas, nos mares e nos rios, esses comereis. Mas todo o que não tem barbatanas, nem escamas, nos mares e nos rios, todo o réptil das águas, e todo o ser vivente que há nas águas, estes serão para vós abominação.

Assim, tão abominável quanto "deitar-se" com outro homem é comer moluscos, ostras, caranguejos, lagostas e camarão. Por que será que nunca vi um pastor pregando contra os abomináveis que comem camarão? Por que nunca vi uma manifestação pedindo que uma lei criminalize tal prática? Gente, é abominável! *ironia*

Nunca vi, também, um pastor pregando a morte àqueles que trabalham aos sábados, contrariando a palavra de Deus, conforme Êxodo 35:2 "Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao SENHOR; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá."

E por que será não tinha nenhum manifestante nas fotos que vi da marcha pela babaquice família que jamais tenha aparado a barba, conforme Levítico 19:27 "Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba."

A bíblia do Deus de amor prevê até que é permitido vender a própria filha como escrava (Êxodo 21:7), mas me dirão os cristãos "eram outros tempos". Mas por que essa afirmativa só vale ao que lhes convém?

Procurem em Levíticos 11 quantas vezes a palavra "abominação", a mesma usada para definir o homossexualismo, é citada sobre coisas banais, sobre as quais nunca vi um pastor pregar.

Tudo que escrevi foi só para apontar as contradições cristãs. Mas sei que será inútil, então venho aqui esclarecer aos evangélicos um ponto importante sobre o PLC 122/06:

Conforme a Erika explica neste post, o qual vale muito a pena ser lido na íntegra para entender melhor o projeto em vez de ficar ouvindo mentiras propagadas por reaças, a liberdade de opressão religiosa é garantida com o § 5º do artigo 20.

“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.

(...)

§ 5o O disposto no caput deste artigo não se aplica à manifestação pacífica de pensamento decorrente de atos de fé, fundada na liberdade de consciência e de crença de que trata o inciso VI do art. 5o da Constituição Federal

Assim, o direito de vocês de falar absurdos na TV e nas igrejas está garantido. O que não está garantido é o direito de agredir pessoas que se amam, de oprimir pessoas pelo que elas são. Você optou por ser evangélico, e eu respeito isso, por mais babaca contraditório que eu considere. Não é opção dos homossexuais quem eles amarão, então por que você simplesmente não os respeita também?

Se o seu Deus é de Amor, como você faz questão de afirmar, devia ajudar a combater aos inúmeros crimes cometidos todos os dias contra pessoas que só querem amar. Não à homofobia. Sim ao PLC 122.