quarta-feira, 13 de julho de 2011

Auto-conhecimento.


Às vezes acho que, se procurar o significado do meu nome em algum site, o resultado da busca será algo como o misto de: do latim - hipocrisia; do grego - incompetência.
A verdade é que considero importante levantar bandeiras e nunca entendi o sentido de viver sem uma causa pela qual lutar - pelo menos não na sociedade em que vivemos.
O problema é que, ao mesmo tempo em que posso palpitar em quase qualquer debate, a incompetência para me aprofundar de verdade é algo que me corrói. E me entristece saber que a imagem que as pessoas têm logo que me conhecem, de que tenho muitos conhecimentos ou de que sou muito engajada, se desfaz em pouco tempo.
Desde coisas pequenas, como o fato de eu gostar de literatura mas nunca ter lido Manuel Bandeira ou José de Alencar. Também nunca li Admirável Mundo Novo ou A Divina Comédia.
Não precisa me conhecer por mais de 5 minutos, ou ler mais de 140 caracteres, para identificar meu feminismo. Sou contra a imposição dos padrões de beleza, porém paguei 3 mil por um nariz novo e sou escrava da chapinha.
Sei bem das minhas tendências socialistas/comunistas, entretanto tudo que sei de Marx e Engels é o que aprendi na escola. Sempre gostei de política mas qual é a ideologia daquele partido mesmo?
Não sou consumista e, ai meu deus, olha aquela bota da Fórum!
Defendo a liberdade sexual, enquanto isso, sou cheia de travas, bloqueios e complexos. Apoio o naturismo e morro de vergonha do meu corpo.
Como carne, sou insegura, escuto Velhas Virgens e não tenho experiência em militância. Tenho dois yorkshires comprados e não adotados. Rio ao ler o "Classe Média Sofre", entretanto acho que vou morrer quando a fonte do meu notebook estraga.
Exijo relacionamentos baseados em sinceridade, mas se não ouço o que espero, duvido da veracidade. Não gosto de cobranças embora seja mega carente.
E, vejam só, não estou falando de passado. Estou ignorando que fui monogâmica por quase dois meses, que fiz campanha para a direita e que cantava músicas preconceituosas em estádios.
Acho super válida a campanha "Eu limpo a minha sujeira", mas sequer sei dobrar minhas roupas. Não quero ser mãe e minhas filhas chamarão Maria Luiza e Laura.
Procuro me informar sobre todos os temas que considero relevantes, enquanto isso não tenho posicionamento sobre a descriminalização das drogas.
Mal conheço o anarquismo. Não sei o nome de todos os presidentes do país, aliás, para ser mais exata, ignoro quase toda a história política.
Adoro House, mas não passei da terceira temporada. Sou gremista, mas quais foram os resultados dos jogos do campeonato brasileiro do ano passado?
Filosofia é uma das minhas paixões, mas não li Foucault, Hobbes ou Kant.
Sou headbanger, todavia raramente lembro o nome das músicas e não passo nem perto de saber discografias de cor e salteado.
Mulher não deve calar ante agressão, mas calei muitas vezes. Sou super "we can do it", mas não sei trocar pneu.
Passei na primeira prova da OAB que fiz e não sei responder nenhuma pergunta jurídica, não sou apta a advogar. Sou atéia e, vez ou outra, me pego falando com um ser todo-poderoso imaginário.
Há também a contradição de que não bebo nada alcoólico, porém tenho uma queda por tequila.
Me apavora a idéia de alguém controlando minha vida, mas ela 'tá lá, toda exposta em redes sociais. Dentre o que sei fazer de melhor ("menos pior"), está o conhecimento sobre a língua portuguesa, entretanto começo orações com pronomes oblíquos.
Quem disse que li Ferrajoli para me afirmar garantista?
Não quero ser parasita da monogamia, me recuso a facilitar traições ou a dar moral para cara que engana mulher e, ai meu deus, que lindo aquele barbudo que tem namorada.
Admiro quem se joga nos muitos amores, curte as paixões, entretanto racionalizo demais. Aliás, racionalizo todas as paixões, menos a pelo futebol.
Sou contra mentira, mas colar em prova pode, hein?
Esses foram apenas alguns exemplos dos zilhões de contradições, superficialidades e babaquices que tenho.
Sou uma farsa, então não me critiquem pela auto-estima quase inexistente, ela tem razão de ser.

Um comentário:

  1. dei um respiro de alívio nesse negócio do headbanger - só ouço, não faço idéia nem do nome da música direito. ficava puto quando o grupinho headbanger da facul me achava menos por não saber o segundo nome do baterista temporário de 1978 daquela banda obscura.

    mas sério, acho que a gente tem uma crença que todo mundo é fodão nesse mundo. Eu sou gamer, mas seria a mesma coisa de sentir vergonha pq não jogo starcraft como um coreano (esporte nacional por lá...) Desconfio de todo mundo na casa dos 20 que diz que leu mil filósofos...

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