E eu que não sou de chorar sinto meus olhos lacrimejarem discretamente quando deito à cama e os pensamentos chegam para atormentar. Minha memória me tortura com lembranças singelas de momentos que não voltarão. Com a lembrança de nossos dedos se entrelaçando no dia em que tudo começou, dos teus braços envolvendo minha cintura em meio à multidão, da trilha sonora... a trilha.
Lembranças de olhares, palavras, risadas, sentimentos nunca nominados, inconseqüências motivadas pela química de nossas peles. As idas e vindas, chegadas e partidas, os quilômetros, malditos quilômetros. Os abraços de saudade, os abraços de afeto, os abraços de satisfação, os abraços de despedida, os abraços, os braços, as pernas, as bocas, os sexos.
De repente, percebo quão triste é saber que jamais encontraremos outras pessoas que ignorem tanto a rotação da terra, como se aquilo sequer lhes dissesse respeito, os horários lá fora, a rotina diária. Pessoas que façam com que seus dias tenham a duração que lhes convenha, não separados por sol e lua e sim por lençóis e chuveiros.
E me machuca saber que tudo isso não teve a mesma relevância para ti que teve para mim. E se eu tivesse feito diferente? Em que momento eu deveria ter dito mais, ter dito menos? E se eu tivesse entrado naquele ônibus, enviado aquela carta, tido aquele filho, roubado aquele beijo? E se eu tivesse sido mais tolerante, e se eu tivesse me apaixonado pelo teu primo? E se eu tivesse ignorado o que ouvi, confessado o que me incomodava?
E todos aqueles laços que nos uniam hoje me parecem que apenas os forjamos. Fomos (ou só eu?) inocentes ao acreditar que a única distância entre nós eram os tais malditos quilômetros.
E se o nosso afeto tivesse sido o bastante para estabelecer lealdade? E se a minha irritante mania de falar demais tivesse dito o suficiente? E se a fraqueza da minha carne te provasse que eu entenderia a fraqueza da tua? E se a minha dificuldade em cortar laços tivesse te dado certeza de que eu perdoaria? Eu perdoaria... se a nossa história tivesse um significado real, se tivéssemos um dia deixado de ser estranhos um ao outro.
E se meu coração não tivesse se despedaçado em meio aos risos de deboche? E se a frustração não tivesse chegado arrebatadora? E se não tivesse sido mentira o que vivemos?
"se não tivesse dito e feito tanta coisa, podia ter vivido um grande amor..."
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