sexta-feira, 26 de abril de 2013

Experiência.




P'ra cada amigo que virar as costas, um desconhecido há de nos estender a mão. P'ra cada tão-esperada-festa que der sono antes da meia-noite, alguém há de nos acordar com um telefonema às 3h da manhã, dizendo apenas "estou passando aí" e nos fazendo ter uma noite inesquecível. É assim, acreditem. P'ra cada feijão-em-pote-de-sorvete, há de sermos convidados por um amigo para passar o domingo comendo o melhor brigadeiro de panela do mundo. E p'ra cada premiado-filme que nos fizer bocejar, um filme do qual nunca ouvimos falar, porém com uma protagonista apaixonante, há de aparecer enquanto zapeamos em uma madrugada tediosa. Não é pensamento positivo, não é crença. É experiência pessoal, sério. P'ra cada lágrima, um sorriso. Ou mais.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Enquanto durarem os estoques.




Das tantas vezes que entendi mal as lições da vida, não percebi o óbvio e tirei as conclusões erradas, falando sobre posse e amor livre, me veio à mente esta.
Uma das coisas que sempre se fizeram claras para mim quando o assunto é (ausência de) ciúme e (crítica à) monogamia, é que cada pessoa é diferente, não fazendo sentido a disputa. Não há razão para competição quando sequer se tem critérios de onde partir. Não existe melhor ou pior quando não há base para comparação e, ainda, com tantos fatores relativos, inconstantes(,) como meu humor. Dá p'ra amar multiplamente, simultaneamente, sem conflito de sentimentos.
Entretanto, na minha babaquice imaturidade, já tirei uma conclusão equivocada e, pasmem, cultivei um outro tipo de ciúme - ruim como todos os outros. Afinal, se cada pessoa era diferente (e é), eu fazia questão de que cada história também fosse. Assim, em vez de enriquecer as novas relações com as experiências das demais, melhorando-as, cada novo amor tinha uma trilha sonora distinta, assustos diversos, piadas internas únicas, apelidos exclusivos, declarações inéditas.
Quando falhava no objetivo, deixando escapar um termo, indo a um lugar ou comentando um filme que já fosse "de outro", me sentia uma traidora. Ou, na situação inversa, me sentia traída. Não me sentia dona da pessoa, porém me sentia proprietária de tudo que envolvia a história com ela. Shame on me.
Eu não me importava que as outras relações tivessem mais, me incomodava que fossem iguais. Eu não queria ocupar sempre o pensamento, mas queria que certas coisas lembrassem somente a mim. Queria que todos os momentos fossem únicos sem perceber que todos os momentos são únicos, por mais semelhanças que tenham.
Tudo era sincero, não criava personagens, não fingia interesses, apenas escolhia para que lugar ia cada parte. Talvez desse certo se minha vontade de amar não fosse tanta. Não era o caso. Meu estoque de conteúdo não acompanhou.
Embora haja muita coisa em mim além do que sei, e embora eu possa ser mais do que eu, sou limitada e limitava as relações, pois se mostrasse tudo a um, nada teria para outro(s).
Querendo ser tudo (e mais) com todos, cansada de me podar, percebi que não dá p'ra fugir, todas as histórias terão elementos em comum, afinal, possuem um mesmo elemento essencial. Mas percebi, também, que cada história continuará sendo singular, pois a combinação dos elementos é única - e enriquecedora para o estoque e para todos os demais relacionamentos.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Artificial.

- What's wrong with me?


Tentando ser quem não era, até pareceu apropriado rasgar a carteirinha de feminista, como se houvesse uma. Buscava enquadrar-se tão perfeitamente nos estereótipos de gênero, investindo tempo, dinheiro e energia em um penteado escandaloso, em uma maquiagem gritante, em unhas de não deixar dondoca nenhuma passar vergonha, em um vestido da moda - nem puta nem santa, diriam elas -, com direito a cabelo e cílios (e sonhos) falsos, até ficar ridícula parecendo uma boneca pintada com materias escolares por uma criança.
[...]
Levou bastante tempo desfazendo toda aquela artificialidade. Com a maquiagem borrada pelas lágrimas, viu no espelho o reflexo do fracasso. Chorou a madrugada inteira, como nas novelas mais dramáticas, como nos contos-de-fada de princesa sendo enganada, sem achar seu príncipe. [...] viu tudo morrer de uma vez, a angústia apertou seu peito, a decepção pesou em seus ombros, sentiu o coração sangrar. Logo a verdade surgiu brutal, óbvia em frente a seus olhos, colhia o que plantou, de forma que foi dominada pela culpa. A culpa de ter tentado ser quem não era. Quis fingir que não se importou, quis dizer que não se machucou, tentou relembrar só a parte boa, porque dói assumir que, talvez, tenha investido tempo na coisa errada - e não falo do cabelo. Mas sua mente a sabota, faz a verdade gritar e a relembra o porquê de não ter auto-estima...
De que eu falava mesmo? Ah, de sonhos falsos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Variedade.

"E comi os dois."


- (...) se você já ama duas pessoas, até faz sentido. Mas eu não entendo como é que se chega a amar duas pessoas, ou, mais difícil ainda, como é que se fica com outra pessoa por quem sequer é apaixonada. Afinal, se você já está com uma que você ama, eu imagino que você prefira ela do que um desconhecido. Então por que gastar tempo com alguém que você não gosta em vez de estar com aquele que você já sabe que ama?

- Quando eu vou a um rodízio de massas, eu prefiro sempre as pizzas. Mas não é por isso que eu deixo de comer outras massas, e até outras coisas que ofereçam, arroz, salada, sei lá.


- Ah não! Comparar a um rodízio? 


- Porém, não consigo dizer se prefiro pizza ou chocolate, pois são duas coisas completamente diferentes. Ambas me fazem igualmente feliz, cada uma no momento em que mais combina, então é impossível escolher.


- Assim não dá p'ra conversar, você trata esse assunto de forma muito simplória. Vamos mudar de assunto.

- Claro! Que blusa bonita essa sua! 


- Obrigada! É nova!

- Deix'eu fazer uma pergunta: se sua cor preferida é azul, por que você está com essa blusa roxa? Por que gasta seu dinheiro comprando roupas de outras cores em vez de comprar apenas da sua cor preferida? 

- ...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Desvio.



Era uma magrela desengonçada que não se apegava a nada e nem a ninguém. Não que não amasse, amava muito, mas não sentia que amor algum valesse a sua liberdade e, por isso mesmo, não se importava em deixar tudo p'ra trás em busca de dias -e noites- melhores. Ela não temia o desconhecido, pelo contrário, fascinava-se ante ele. Era independente e corajosa, estava decidida a buscar seus objetivos nada convencionais. Queria abraçar o mundo, formular todas as perguntas e, se sobrasse tempo, desvendar as respostas.

A tal guria achava que nenhum detalhe do planeta poderia ser perdido na curta viagem da vida, cada pequena nuance a encantava. Desesperava-se ao imaginar partir sem conhecer tantas culturas, tantos lugares, toques, olhares... Não, ela não se conformava com os caminhos óbvios, tradicionais. Queria o incomum, o surpreendente.
Porém, em alguma parte da jornada, ela se perdeu e, embora a sede de mundo ainda esteja ali a importunando, não sabe até hoje por onde deixou sua coragem. Não sabe nem quem é. Não sabe nada.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Racionalidade, aqui me tens de regresso.



Eu não queria transformar este espaço apenas em chororô e exposição pré-adolescente - fase que não superei. Tenho escrito textos sobre outras coisas, mas adio a postagem a fim de elaborá-los melhor. Já esses, escritos no impulso, sobre os quais mudarei de idéia logo no dia seguinte, não podem ser postergados, sob risco de caírem no esquecimento. Afinal, a razão de eles estarem aqui é simples: gosto de, tempos depois, reler e lembrar o que senti por alguns momentos.




E eu me joguei de novo, de cara. Por mais que doa e me faça por vezes infeliz, me faz quase sempre feliz. Me conforta saber que fiz as coisas do meu jeito. E, então, entrou em ação a minha natural e habitual defesa, que me salva de grandes quedas: após deixar o coração gritar, mandar e decidir tudo - enquanto bate em ritmo frenético quase parando na boca -, ao perceber o declínio, passo a racionalizar. E a razão me devolve o equilíbrio emocional. É meio sem graça, reconheço, mas deve ser insalubre passar muito tempo surtando.


É bom respirar em ritmo normal outra vez, ufa.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Planos para a madrugada.


Queria ir ali na esquina tomar um café, andar a cidade inteira a pé, curtindo o luar. Queria voltar a ter fé na vida, crushar em uma barba desconhecida, acordar em uma cama esquisita. Queria me jogar pela Lapa, escolher um ponto aleatório no mapa e me perder por aí.

Queria ver um filme com o namorado, terminar aquele livro há quase um ano comprado, sentir o coração vir na boca. Queria dar colo para o meu menino, porque é tão ruim adoecer, dar gargalhadas até amanhecer, dar a reviravolta.

Queria aceitar aquele convite, conhecer uma nova paixonite, chorar ao abraçar a amiga de infância. Queria admirar o silêncio, sentar num canto e sentir o vento. Queria dormir só ao meio-dia, virar um shot de tequila, arrumar a mochila e, então, partir.

Queria dançar de pés descalços, queria conhecer uma nova banda, fumar a madrugada inteira na varanda. Queria encher a casa, encher a cara, esquecer o rumo, perder o prumo. Mas só vou dormir, porque vendi minha alma.